Não é novidade que hoje as
mulheres vivem mais que os homens em praticamente todos os países do mundo, mas
um levantamento reunindo dados dos últimos 300 anos mostra que elas também eram
mais resilientes no passado, até nas piores circunstâncias, como fome e
epidemias. Segundo os pesquisadores, mesmo na infância, quando as diferenças
comportamentais são mínimas, as meninas têm mais chances de sobrevivência que
os meninos, o que indica que a explicação para o fenômeno deve ter algum
componente biológico.
A equipe liderada por Virginia
Zarulli, da Universidade do Sul da Dinamarca, e James Vaupel, da Universidade
Duke, analisou sete episódios históricos que tiveram forte impacto sobre a
expectativa de vida da população, como a chegada de ex-escravos americanos na
Libéria, entre 1820 e 1843; a fome na Suécia em 1772 e 1773; e as epidemias de
sarampo na Islândia em 1846 e 1882.
“As condições experimentadas
pelas pessoas nas populações analisadas eram horríveis. Apesar de as crises
reduzirem a vantagem da sobrevivência feminina na expectativa de vida, as
mulheres ainda sobreviveram mais que os homens”, revelaram os cientistas em
estudo publicado semana passada na revista científica “PNAS”.
Na Libéria, por exemplo, os
escravos libertados nos EUA experimentaram as piores taxas de mortalidade já
registradas no mundo. Mais de 40% dos realocados no país do oeste africano
morreram no primeiro ano após a chegada, provavelmente por doenças tropicais.
No nascimento, a expectativa de vida para os meninos era de 1,68 ano e, para as
meninas, de 2,23 anos.
A fome na Suécia de 1772/1773 é
considerada a pior na história do país, provocada por condições climáticas
anormais no verão de 1771, que quebrou a safra e provocou aumento expressivo
nos preços dos alimentos. Em 1973, a expectativa de vida da população desabou
para apenas 17,15 anos para os homens e 18,79 anos para as mulheres. Na
Islândia, a epidemia de sarampo fez a expectativa de vida em 1846 cair de 35,35
anos para 17,86 anos entre os homens e de 40,81 anos para 18,82 anos entre as
mulheres.
“Em todas as populações os homens
tinham taxas de mortalidade iguais ou maiores que as mulheres em todas as
faixas etárias”, apontam os pesquisadores.
Quando os cientistas analisaram
os dados por faixa etária, descobriram que a vantagem de sobrevivência das
mulheres se desdobram a partir de diferenças na mortalidade infantil. Em todos
os casos analisados, as meninas eram mais resilientes que os meninos. Como nos
primeiros anos de vida os impactos ambientais e comportamentais são mínimos, os
resultados sugerem que a diferença na expectativa de vida entre homens e
mulheres não pode descartar a influência biológica.
“Nossos resultados adicionam uma
nova peça ao quebra-cabeças das diferenças de sobrevivência entre os gêneros”,
concluem os pesquisadores. “Eles sugerem que a vantagem feminina tem raízes
biológicas e é influenciada por riscos, oportunidades e recursos ambientais e
comportamentais”.
O Globo via Blog do BG.
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